Mesa de Ano Novo. |
Todos amamos uma bela mesa e boa comida. Farta como nas casas brasileiras matriarcais.
Desde 2009 viajo à Europa para encontrar meu querido namorado Jan Kremer na Holanda, em Arnhem, ou em Portugal, em Evoramonte.
Claro que então cozinho para nós dois e muitas vezes para nossos hóspedes.
A cozinheira feliz, de avental. |
Jan divide comigo o amor por uma boa mesa: bem posta, bonita e gostosa. Ele mesmo prepara comidas holandesas, especialmente o "boerenkool" (o "stamppot" preferido do país), "meat balls" e a melhor batata frita que já comi. E que como sempre.
O "stamppot" é um prato típico do inverno que literalmente significa "panela pisoteada" e consta da trindade da culinária holandesa: carne ou salsicha, verduras e batatas. Cenoura, cebolas e batatas cozidas e amassadas para o "hutspot" ou couve e batatas para o "boerenkool". Em geral acompanhados de salsicha defumada. E que delícia. As salsichas defumadas são inesquecíveis. A primeira vez que vi relutei em provar mas essa combinação é deliciosa e agora adoro um jantar holandês.
Boerenkool: couves, batatas e bacon. |
Boerenkool com salsicha: pouquinho porque era a primeira vez que provava. Mas adoro. |
Desde que vim para Evoramonte partilhando uma vida com Jan tive que assumir com ele todas as atividades domésticas no duro. Ele acostumado a isso porque assim é a vida na Europa. Eu que nunca passai roupa ou limpei a casa na rotina, nem cozinhei diuturnamente ou noturnamente, mas ocasionalmente, tive que me adaptar a essa nova vida campestre e simples aprendendo a gostar do que tenho que fazer. Jan sempre teve medo de que essa dureza ou essa realidade diferente me assustasse e que seria difícil para mim o ajuste a novos tempos. Amor não é só conforto e risadagem, passeios e carinhos. Amor inclui uma casa acolhedora, aqui feita pelas nossas mãos.
E não é que estou amando e ele surpreso? Como tenho falado de comida e postado no facebook algumas fotos, minha família e amigos perguntam pelas receitas. Que não são realmente originais mas tiradas da internet, da experiência, da memória, do ver fazer. Então sendo esse um assunto interessante e sendo a gula nosso pecado compartilhado resolvi colocar mãos a obras nesses escritos.
Primeiro tenho que avisar às navegantes que nunca entrem numa cozinha sem luvas de trabalho. Pela proteção das mãos evitando detergentes, por exemplo. Depois para proteção das unhas porque continuo indo toda semana ao cabelereiro e toda semana faço unhas. E principalmente para evitar o terrível cheiro de cebola, de alho, de camarão ou de qualquer tempero que impregna de tal forma sua pele e suas unhas que só uma semana de banhos resolve. Afinal gata borralheira é um apelido de brincadeira, como deixar de ser uma princesa que nunca fui, porque sempre trabalhei pesado.
E Jan Kremer disse que não sendo mais princesa sou a rainha. Da casa, da cozinha e com certeza do seu coração.
Sou extremamente desajeitada e quando cozinho penso que nada vai dar certo, mas tudo sempre fica bom, exceto os primeiros bolos que tentei fazer quando ainda era jovem com filhos pequenos e que ficando solados eram transformados em pudim de pão por minha mãe, que não jogava nada fora.
Minha luva depois de dez dias de uso, ralando cebolas e dedos. |
Não gosto de medidas embora as siga, mas uso uma quantidade de timtim disso e tchantchan daquilo, o que sempre fez minha nora Teresa Carvalheria dizer que era impossível aprender algo comigo. Ou com Ana Lúcia minha irmã que também usa sons para definir quantidades. Luciana é muito mais experiente e organizada na culinária embora tenha feito um dia uma torta doce com sal no lugar do açúcar o que nos fez morrer de rir num chá a três. Luciana faz desde comidas regionais e internacionais a sobremesas, empadinhas e pastel de natas.
Eu falo numa colher de açúcar e derramo o açúcar em volta da colher. Na cozinha Teresa sempre dizia: se Jan ver a bagunça que você faz lhe deporta de volta para o Brasil.
Meu lindo neto "chef-de-cuisine". |
Paulo Mansuino, meu neto e Paulo seu pai, meu filho |
Um avental é necessário, charmoso ou simples, não interessa. Pegadores de panelas quentes e luvas. Instrumental apropriado, panelas, frigideiras de vários tamanhos e um arsenal de boas facas e utensílios. Jan tem excelente material para cozinha, que ele ama, de muito boa qualidade. Mas acho que com vontade pode-se fazer tudo em panelas e material barato de cozinha. Afinal não somos profissionais, eu e quem estiver lendo esse blog.
Uma pequena horta de tempeiros ajuda. Estamos começando a nossa com pequenos potinhos na janela da cozinha que tem um largo peitoril nessas casas de paredes grossas do Alentejo.
Salsa e manjericão. |
Gosto de cozinhar com música e aqui é fácil porque a cozinha é nosso local predileto, tipo as cozinhas americanas, e tem música o tempo todo. De música clássica a bossa nova, passando por Ary Barroso, Noel Rosa, Elis Regina e os clássicos do jazz.
Agora mesmo estamos ouvindo Billie Holliday.
Usamos aqui e em Recife uma jarra elétrica para ferver água em cerca de um minuto. Serve para lavar a louça e as panelas e principalmente para cozinhar os alimentos que usam água, tipo sopas ou arroz. Aqui a eletricidade é mais barata que o gás, segundo dizem e portanto não se gasta tanto gás começando a cozinhar com água já em ebulição.
Posso desperdiçar essa quantidade de figos? |
Uma linda e deliciosa compota de figos do quintal. |
Vários livros falam dessa nova maneira de viver num mundo extremamente consumista. Uma delas é
Bea Johnson que vive dessa maneira com sua família desde 2008 e tem um livro chamado "Zero Waste Home". Seu lema é: "REFUSE, REDUCE, REUSE, RECYCLE, ROT (and only in that order).
Livro e lema de Bea Johnson. |
Receitas vão começar no próximo blog. Primeiro vou experimentar a compota de sobremesa à noite.
Referência sobre "zero waste".
Lauren Singer:
http://tedxteen.com/talks/tedxteen-2015-nyc/295-lauren-singer-why-i-live-a-zero-waste-life
Bea Johnson:
www.zerowastehome.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário